Sunday, October 22, 2006

Parkour na Mídia 1




***Comecei a praticar parkour sem nenhuma expectativa muito grande. Minha inspiração foram vídeos de Belle e realmente, não imaginava chegar aonde cheguei. Objetivo após objetivo, superei diversas carências e encontrei outras mil.
Mas aonde cheguei? A lugar nenhum. Isso mesmo. Diria que cheguei a lugar nenhum e que parece ser onde deveria ter chegado.
Quero dizer apenas, que cada objetivo alcançado inaugura um novo objetivo. Após um salto de precisão, inaugurei repeti-lo 50 vezes. Após repeti-lo, procurei outro mais distante. Em seguida, quis realizá-lo numa superfície ainda menor. Percebi que, se aumentasse minha força na perna poderia ir mais longe, então, intensifiquei o treino de força... Percebi então, que não tem aonde chegar, não tem porque chegar a algum lugar se nosso prazer é estar em ação.
No meio desse caminho, a Revista Isto é descobriu que nós treinávamos regularmente. Pesquisaram e publicaram que ali se formava o primeiro grupo de parkour do Brasil. Saiu assim, na matéria de setembro de 2004. Indicamos pessoas de Brasília para colaborarem na matéria, assim como de Florianópolis e Curitiba.
A matéria foi vista criticamente pelos praticantes da época e com razão. Continha algumas idéias equivocadas, alguns termos errados, mas definitivamente contribuiu muito, direta ou indiretamente para que você, que esta praticando parkour agora, tenha-o conhecido. Até hoje, recebemos ligações para reportagens de jornalistas que conheceram o parkour nesta edição da revista.
Em seguida, saímos na capa do Diário de São Paulo e logo veio a matéria da MTV. De lá para cá, fizemos mais de 50 matérias nos maiores meios de mídia e divulgação no Brasil.
E? E nenhuma divulgação representou estritamente aquilo que tentávamos transmitir. Muitas vezes, nos esforçávamos e explicávamos, corrigíamos... Eles faziam tudo ao contrário.


***Definitivamente, o parkour é algo novo e nossas entrevistas sempre respeitaram o discurso dominante em cada momento. Já os jornalistas, sempre o destorceram um pouco. Hoje, o discurso sobre ele mudou, mas o que importa é que muito além do discurso, está o espírito. O espírito pode estar presente com esse ou aquele nome, com essa ou aquela ideologia. É no espírito que nós nos juntamos, não no discurso.
Por isso, treino a vontade com traceurs, acrobatas, escaladores, bailarinos ou freerunners. Os nomes, as discussões burocráticas e tudo mais desaparecem, pois o espírito vem antes. Fazer parkour com discurso é fácil, fazê-lo com espírito é raro e felizmente nos faz aprendizes sempre.
Sou a favor de menos discurso e mais exemplo, mais experiência, mais espírito.Quem começa a praticar terá que ir atrás de informações e imediatamente verá que parkour é outra história. Terão nos antigos o exemplo. Aliás, que exemplo você esta dando?


*** É claro que não gostamos de fazer uma coisa e ver outra na tv, mas é assim que milhares de pessoas têm contato e a oportunidade de conhecer algo que acreditamos como um bem que nos foi transmitido e que da mesma forma pretendemos transmitir. Apesar das edições serem tendenciosas necessariamente, pois expressam uma visão, o forte das matérias são as imagens. Com elas, os praticantes são autênticos e inspiradores. As matérias, apesar de não representarem exatamente o discurso que esperamos nem que transmitimos, também não são tão ruins assim.
Por exemplo: Esporte é a palavra mais familiar para os jornalistas, com mais proximidade de significado para uma descrição ou definição do parkour para a massa, segundo eles. Alias, faz pouco tempo, os praticantes falavam de esporte quando falavam de parkour.
-Por favor, sem histerias quando numa matéria chamarem parkour de esporte ou rolamento de cambalhota. É claro que temos que conseguir que se substituam essas palavras por outras mais adequadas, mas pensem bem, o jornalista também tem suas necessidades, ele ainda não se permite escrever disciplina, por exemplo. Segundo sua interpretação é uma expressão difícil, foi o que me disse a jornalista da super interessante. Mas, não é porque chamaram de esporte que está tudo perdido.


***O problema de se nomear como esporte, é que assim irá se esperar dele tudo aquilo que se encontra nos esportes, como competições, por exemplo. Mas tudo bem. Vamos vencer essa, aos poucos eles começam a aceitar, se acostumar com a idéia e não sentirão mais a necessidade de escrever da forma que tem escrito ou que tem editado para tv. Não tem porque brigar. Mesmo assim, entendo porque um jornalista chama rolamento de cambalhota, mesmo sabendo que é rolamento. Temos que dar o exemplo e repeti-lo sempre, até que não tenha mais sentido caracterizar o parkour de forma diferente da qual o praticamos.


*** De qualquer forma, vale a pena ver como as coisas na mídia mudam. Abaixo, segue o texto que depois de muito conversar consegui melhorar um pouco, mas ainda são visíveis o tom popular que a revista espera e algumas confusões comuns sobre a história. Esse texto era o que devia sair na edição de outubro de 2006 da revista Super Interessante. Assim foi conversado com a jornalista, mas quem manda é o editor e quem leu a revista com certeza viu algo bem diferente. Da mesma forma, o desenho mostra o primeiro esboço que, infelizmente foi reduzido e nem tudo corrigido adequadamente. Sem cuspir no prato que comi, achei a matéria boa, só que poderia ter sido ainda melhor.
Mas não seria assim mesmo?


Uma disciplina esportiva, que se apropria de técnicas de ginástica olímpica, artes marciais e técnicas naturais. O Le Parkour consiste na transposição de obstáculos sem a ajuda de rodinhas, acessório especial ou qualquer parafernália motorizada.
A idéia é que os traceurs – praticantes – usem apenas o próprio corpo, com eficiência, fluidez e agilidade para pular muros, escalar paredes, subir em árvores ou saltar vãos, realizando um percurso e atingindo o destino desejado.
Cada praticante segue seus próprios objetivos, as manobras são chamadas de movimentos e é principalmente através do treino com a repetição de percursos e com exercícios com o próprio corpo que, segundo os praticantes, o corpo se condiciona e fica esteticamente trabalhado e ágil para a superação dos obstáculos.
Competição é uma palavra que não existe no dicionário dos traceurs. Da mesma forma, academia e musculação apenas, são práticas de educação do corpo consideradas pobres no objetivo da educação, pelo criador do método natural, que inspirou o parkour. “O propósito do Parkour vem de algo mais nobre”, afirma Eduardo Bittencourt, um dos pioneiros no Brasil. “Ele pode ser uma porta para integrar o ser humano com a natureza e com a sociedade. David Belle treinava pensando em ser um homem forte e útil para si e para a sociedade, criar seres humanos mais íntegros nos interessa”.
O nome parkour é uma palavra francesa para designar ‘percurso’. O parkour teve origem no subúrbio de Paris, na década de 80, quando adolescentes de lisses treinavam juntos. David Belle, um deles, vinha de uma família de bombeiros, e cresceu acompanhando as técnicas de salvamento e fuga treinadas para situações de emergência e guerras, como a do Vietnam.
Influenciado pelo pai, David Belle via na ginástica natural uma forma do homem desenvolver seu corpo e usá-lo de forma prática e útil na vida. Para isso, baseava-se no “Natural Method of Physical Culture”, ou método natural de educação física, de George Hébert, educador físico francês do século 20. Hébert estudava a teoria do “nobre selvagem” de Rosseau e acreditava que apenas observando a natureza o homem seria capaz de criar métodos reais de desenvolvimento do corpo.
Aos 15 anos, Belle começou a praticar o Parkour nas ruas usando técnicas do Método natural e artes marciais, somadas às técnicas de salvamento e fuga dos bombeiros. Junto com o amigo Sébastian Foucan, que depois seria responsável pela criação de algumas técnicas do Parkour, o desenvolveram, e belle cria o grupo Yamakasi, que atrairia novos adeptos em toda a Europa.
Hoje, no mundo todo, o Parkour está divido em duas correntes: free running e parkour. O primeiro geralmente mais preocupado com a parte estética das manobras do que com a superação de obstáculos de fato. “É uma forma de arte, de se expressar. É um parkour estético em que o foco pode estar no praticante e não na dificuldade do obstáculo”, explica Eduardo Bittencourt, lembrando que os dois estilos se misturam bastante no Brasil. “Já o Parkour mesmo, é aquele que tem como objetivo você ir do ponto A ao B, superando os obstáculos rapidamente, preparando-se física, técnica e mentalmente para agir, sem se ocupar com nada além de seu objetivo”, completa.
No Brasil, o Parkour chegou em 2004, pela Internet. O primeiro grupo a ser criado por aqui foi o Le Parkour Brasil, formado inicialmente por: Jacques Kauffman, Rodrigo Bélgamo e Eduardo Bittencourt. Ao assistirem a um vídeo de David Belle, eles se motivaram a realizar seu primeiro treino. Três anos depois, o parkour não pára de crescer, a maior comunidade no orkut é brasileira, a ‘Le Parkour Brasil’, e os traceurs tem transformado as cidades numa verdadeira academia a céu aberto.
Se você tiver andando pela rua e der de cara com um cara saltando a escada do metrô ou subindo num muro de 5 metros de altura, sem cordas ou qualquer outro aparato, não ofereça ajuda. Ele só está trilhando seu próprio caminho, um caminho mais divertido para chegar ao mesmo lugar que você.

PARA SABER MAIS
http://www.parkour.net/

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