Monday, November 28, 2011

Aula de Parkour, uma visão específica.

Aula de Parkour, uma visão específica.
Tanto em aulas regulares de parkour quanto em treinos puxados por algum grupo ou alquém, podemos sentir prazer e aprender. Entretanto, desse prazer e desse aprendizado fazem parte a submissão a autoridade de alguém. Refiro-me a treinos cujas ações são determinadas e repetidas. Estas proporcionam resultados específicos, progressivamente intensificados.
O parkour parte de um processo interno de ida em sua direção. É uma busca individual e, acredito, tem seu valor aumentado de acordo com seu distanciamento do esporte. Não existem movimentos no parkour que não dependam de obstáculos, ou que não dependam da forma que você vai criar a sua prática. Proponho que não se deve focar um treino em movimentos, mas em obstáculos. Seu movimento é uma consequência natural de sua relação com o espaço. Se existe um vão você o salta. No parkour, uma das possíveis consequencias de existir um vão é saltá-lo. Existir um vão não é consequência do ato de saltar. Movimentos determinados podem ser substituídos pelas consequências de se relacionar com a diversidade do espaço. Na medida em que o foco é o ambiente, o estabelecimento da relação física com ele fica mais completa, o que significa maior controle sobre o obstáculo total. Isso permite que o praticante saiba por que esta fazendo determinada coisa. Assim, treinar salto em distância, fortalecer as pernas e medir quantos metros alcança, passa a fazer parte do treino instigado pelo obstáculo, afastando-se da concepção de manobra, movimento, exercício físico e comparação. Supondo um muro e determinada relação que se estabeleceu com ele é possível investir de verdade no treinamento de braços, por exemplo. Se o praticante está disposto a subir o muro, e percebe que precisa, mas não tem força no braço para chegar ao topo, poderá escolher uma infinidade de formas de se fortalecer até alcançar seu objetivo. O importante é que teve uma razão para treinar o braço que partiu do próprio desejo de superar o muro. Um professor de parkour, quando apenas ensina movimentos, limita a relação do aluno com o obstáculo em direção a obtenção e a intensificação de resultados específicos. Se o objetivo for passar um carro, um vault pode resolver. Mas para quem aprendeu que se passa um carro com vault, e não consegue dessa forma, passar simplesmente pisando sobre ele, torna-se uma possibilidade impossibilitada caso o instrutor sobreponha a técnica ao abjetivo. Neste caso quem ensina pode se confundir e apontar o despreparo do praticante para aquele obstáculo, enquanto possivelmente seu despreparo é para a técnica. A única razão justa para existirem professores de parkour é o fato de eles gostarem dessa posição, precisarem de dinheiro e terem alunos satisfeitos. O discurso hipócrita de que através de aulas se pode ensinar o parkour de verdade só disfarça o fato de que se poderia dizer a mesma coisa sobre treinar junto ocupando a posição de mestre e aprendiz o tempo todo, sem precisar cobrar um tostão. O professor de parkour ensina com liberdade através de uma perspectiva pessoal ou sem liberdade se precisar se submeter a um contratante. Lamentavelmente em ambos os casos não faltarão tentativas de apropriação de uma verdade elitizadora e ignorante, baseada no discurso de uma norma escravizante, que empresta autoridade a uma pessoa para exercer um poder que nem as supostas autoridades tem, visto que a noção de autoridade no parkour é totalmente dispensável. Refiro-me diretamente a uma concepção de treino vertical assumida como verdade única.
Este texto é um pedido aos professores de parkour que honestamente ganham seu dinheiro e oferecem o melhor de si nas aulas. Esse pedido é que considerem o que falo e que sempre estejam dispostos a melhorar o que fazem. Um grande abraço aos meus amigos professores de parkour.

Thursday, September 29, 2011

Parkour sem competição, freerunning com?

Parkour sem competição, freerunning com?

Parece haver um acordo, ao menos até agora, que no parkour não há competição, encaminhando-a para o freerunning. Do meu ponto de vista, isso significa dizer que está bem claro o que é um e o que é o outro. Assisti vídeos da competição que ocorreu em São Paulo, mas pouco senti o que entendo por freerunning ou o que entende seu criador. Minha impressão é que pessoas habilidosas basicamente giraram, na maioria dos casos, fazendo boas acrobacias, executadas em obstáculos que sempre tendem a falhar na representação do ambiente urbano ou natural. Num momento ou noutro, ações eventuais típicas de parkour ou consideradas de freerunning, ocorreram sim. Eu, particularmente, preferi a apresentação do Sérgio. Mas, no geral, os competidores desciam girando obstáculo por obstáculo e depois usavam a barra para balançar e girar. Creio que parte disso é devido ao regramento da competição, que definitivamente não combina com o freerunning. Na verdade, imagino que o acordo que citei no inicio do parágrafo anterior, mantém purificado o parkour e os traceurs, e condena o freerunning às competições, deformando-o ainda mais. Na prática, todo mundo treina junto e acredita ter superado a questão entre parkour e freerunning, mas ela permanece de outra forma. Os próprios praticantes de parkour ou freerunning estão ajudando a organizar competições no mundo todo, sem perceber que assim se submetem ao que já se recusaram a se submeter. Sei que vários praticantes algum dia já pensaram em competição, mas a experiência e a filosofia lhes tiraram isso da cabeça. Imagino também que: 1- Existem pessoas que gostam das competições e que inevitavelmente as promoverão 2 - Algumas pessoas bem intencionadas e com poder de organização ou destaque pessoal, contatadas por grandes empresas, entenderam ser possível vincular o nome freerunning à competição. Numa época em que a disseminação preconceituosa e a incompreensão da verdadeira natureza do freerunning eram vigorosas, parecia normal usar esse nome para qualquer fim que não fosse o parkour . 3-Que pessoas bem intencionadas e preocupadas com os resultados de um campeonato sem a supervisão de praticantes experientes, submeteram-se a uma forma de apoiar campeonatos cuja visibilidade depende de sua ligação inevitável ao parkour. Isso implica num paradoxo, pois pretendem, ainda, manter o parkour livre de competições. 4- Que pessoas bem intencionadas acreditaram que conseguiriam transmitir a filosofia do parkour em um ambiente hostil a ela. Os grandes patrocinadores sempre quiseram promover disputas lucrativas via parkour, e encontraram o caminho mudando o nome e valorizando giros. Essa última competição não deixou de mostrar o pior lado disso. Ocorreu uma redução devastadora das disciplinas. Na média, pareceu-me um campeonato de giros em obstáculos feitos para as pessoas girarem e se convencerem que é assim mesmo.

O freerunning deve-se ao co-fundador do parkour. Os fundadores de ambas as disciplinas eram companheiros na arte do deslocamento, na associação Yamakasi e na fundação do parkour. Os dois provêm de uma base comum, que foi gradualmente personalizada e difundida por nomes diferentes, devido ao fato das pessoas serem diferentes e seguirem seus próprios caminhos. Assumiu-se como criador do freerunning, Sebastien Foucan. Seus vídeos, do meu ponto de vista, se parecem muito com os de David Belle, criador do parkour, e mostram que acrobacias ocorrem, mas não definem nem o parkour, nem o freerunning, nem as práticas e nomenclaturas que antecederam suas definições. Com o tempo, cada um estabeleceu sua disciplina à sua forma.

Evidentemente, o tempo transforma as coisas e elas refletem nosso momento. Num piscar de olhos, numa proposta que parece condizente com o funcionamento das coisas do mundo de hoje, na crença de dependermos sempre da máquina pública e privada para progredirmos, já estamos novamente na roda viva. Neste último ponto, o parkour tocou intimamente cada um de nós. Relendo o texto contra as competições ou refletindo sobre a filosofia, sem dificuldade vemos que caímos na armadilha. Eu acho que foi um erro natural e inevitável apoiarmos esse evento e apenas possível de compreendê-lo depois de acontecido. Evidentemente essa é apenas uma opinião pessoal, que ficará mais clara no decorrer do texto. Somos todos crias dos grupos, dos vídeos, das filosofias, das trocas pela internet, das trocas pessoais e da eterna responsabilidade com nosso próprio progresso e comunidade. Para mim, o freerunning era melhor sem competição, sem comparação, sem preocupação com o desempenho do outro, – livre - como o próprio nome sugere. Foucan acredita que competir é uma limitação e uma ilusão. O freerunning pode estar próximo da liberdade e da arte segundo Foucan, mas mantém o espírito do parkour. Quando alguém pergunta por que não tem competição de parkour parece muito fácil responder. Mas eu particularmente não sei responder por que tem competição de freerunning. Assim como não acredito em competição de parkour, não acredito em competição de freerunning.

O uso do nome freerunning para competições e para o que vi como sua prática neste evento é definitivamente algo a ser revisto. Precisamos primeiro resgatar seu verdadeiro significado. A competição trazia o nome “Art of Motion”, mas no site da patrocinadora eles a promovem como o principal evento de parkour e freerunning do mundo. http://www.redbull.com.br/cs/Satellite/pt_BR/Article/Ryan-Doyle-vence-Red-Bull-Arte-do-Movimento-em-021243067481345 Para a globo, foi um campeonato de parkour, porque, como sugeri, esse tipo de evento possui compromisso com a mídia e empenho do patrocinador de lucrar com competições. Para isso, necessita dos nomes parkour e freerunning como chamariz, e isso não vai mudar. http://www.globoesporte.globo.com/videos/esporte-espetacular/v/torneiointernacional-de-le-parkour-reune-representantes-do-mundo-todo/1604452/ Para ser mais claro, não vejo sentido em não haver competição de parkour e apoiarmos as de freerunning. Dizer para a globo, para nós mesmos, ou qualquer mídia, que se corrija da próxima vez não chamando de campeonato de parkour, não pode ser sugerir chamar de campeonato de freerunning. Da mesma forma que respeitamos David Belle e não competimos, podemos respeitar Foucan que é contra competição de freerunning. Se prestarmos atenção no resultado do evento, considerando que houve uma redução devastadora das disciplinas, será que se os B-boys que apresentaram sua arte nos obstáculos tivessem treinado um tempo naquele lugar, não teriam condições de competir e ir bem? Se o Diego Hypólito se preparasse para a competição, não duvido que ganhasse ou quase, mesmo sem ter conhecido o espírito do freerunning. Isso é inaceitável.

Se durante uma competição, um senhor de idade Y, ou fulano X, num canto escondido qualquer, supera-se pela primeira vez num precisão 360 ou se equilibrando a 10cm de altura, numa muretinha fácil para os competidores incríveis, eu me pergunto se não é a ele que nos acostumamos a dedicar maior admiração?

Os critérios de julgamento também parecem impossíveis, porque avaliariam manobras e a qualidade de sua execução, o que normatizaria o movimento e impediria que a pessoa se relacionasse com o obstáculo da sua própria forma através de seu próprio caminho. Além disso, quanto mais critérios de avaliação, mais enrijecida fica a prática, o que a descaracteriza imediatamente. O freerunning busca uma harmonia consigo mesmo e com o ambiente, e não a perfeição, segundo seu criador.

Entretanto, existem boas pessoas dispostas a competir e elas democraticamente continuarão competindo. Critérios de avaliação são usados e aceitos pelos competidores. O Pedro Thomas me contou que quando participou de outra competição internacional, o clima era de união e foi tudo muito bacana para ele. É possível que se encontrem outras formas de competição, que ao meu ver, representem melhor nossa prática, mesmo que sejamos contra.

Sobre o protesto ou invasão, apesar das discordâncias, acho que, em parte, ocorreu porque pessoas desta comunidade tinham seus motivos para realizá-la, em um evento que, para mim, não se dava ao respeito tamanho distanciamento de nossa experiência. Seus participantes e praticantes organizadores evidentemente são pessoas respeitáveis. Além disso, quem pratica parkour ou freerunning quer treinar. Aqueles obstáculos fariam muito mais sentido se fossem para todos, porque é assim que nos entendemos e treinamos. Burocraticamente a invasão teria prejudicado os organizadores em sua relação com os patrocinadores e apoiadores, e esta é uma questão a ser discutida principalmente entre os envolvidos, sobretudo pelas questões por outros apontadas e aceitas por ambos os lados. Mas não ter ocorrido um momento oficial, integrado à infeliz competição, onde todos pudessem desfrutar dos obstáculos foi uma pena. Pelo pouco que ouvi, além de oficinas e apresentações previstas e canceladas, os obstáculos seriam liberados após o evento e não foram devido a invasão. Mas o que lamento, porque particularmente preferiria se houvesse, foi não ter havido algo mais orgânico, onde competidores e praticantes dividissem oficialmente suas experiências e seus espaços. Finalmente conhecemos a segregação e a elitização característica das imposições de patrocinadores e típica de campeonatos, completamente estranha a nossa realidade e filosofia de compartilhamento, assim como diferente dos outros eventos que sempre foram mais democráticos. Ainda assim, temos que lidar de forma madura com isso, pois as coisas são como são. Concordando com as críticas bem fundamentadas, mas procurando o lado positivo, o protesto despertou interesse para o parkour ter mais poder de interferência social, representou o desejo de grande parte da comunidade e, apesar do descontrole que segundo seus organizadores o prejudicou, algum protesto precisava existir ou seríamos incoerentes com aquilo que insistentemente pregamos. Acredito que os problemas com os apoiadores serão superados e não trarão prejuízos a ninguém e que o acontecido colocou muita gente que pratica diante do benéfico exercício da reflexão.

É possível que surjam competições de parkour e que para vencer, o competidor arrisque sua própria vida ou reduza a prática a qualquer coisa. Por isso, aproveitar o que realmente são essas duas disciplinas de uma forma positiva, ainda parece ser cuidar delas, e inspirar-se para trilhar um caminho pessoal que inevitavelmente se converterá em contribuição, mesmo que essa seja acrobática, teatral, técnica, física, intelectual, cinematográfica, disciplinada, um treino puxado etc. Pois tudo isso pode ocorrer, como já ocorreu, desde que se mantenha a raiz das disciplinas.

Para terminar, quero dizer que, como já está acontecendo, podem surgir campeonatos de parkour, de freerunning ou do que for, mesmo a contragosto dos criadores das disciplinas. Acredito que essas competições farão e fazem pessoas felizes, pois quase tudo que se pregou como definitivo teve prazo de validade. Apenas acho que, por enquanto, é estranho, apesar de democrático. Por exemplo: se você joga xadrez, é natural imaginar um campeonato. Se bate bola na rua, também. Mas, se faz yoga, parece sem sentido criar uma competição. Se escreve livros, também. Tem músicos que competem na velocidade de execução de determinada musica, mas não dá pra competir o gosto musical ou determinar como tal musica vai lhe emocionar. Da mesma forma, podemos disputar quem sobe mais rápido um muro, mas aquele que sobe mais devagar pode nos inspirar mais por um motivo particular, ou nos ensinar em outro aspecto, noutro lugar ou noutro sentido. Ou seja, pode haver competição e ser feliz quem compete. Pode haver um campeão mundial de parkour ou freerunning, mas ele apenas sobe mais rápido no muro, e você está treinando na chuva e pensando no parquinho do Oleg. Pelo que tenho escutado, os Yamakasi no Brasil empolgaram muito mais positivamente que os campeões que por aqui passaram e perderam a chance de usar aquele espaço para um bom treino com seus iguais.

Saturday, December 16, 2006

Sempre - Edu le parkour brasil

Sempre , porque é melhor que seja assim.

Parkour e Medo: Minha resposta para um Traceur

ESTE TEXTO NÃO CORRESPONDE MAIS AO MEU PENSAMENTO SOBRE O TEMA E aí Tiago (Tiago é um experiente traceur de Rio Claro. Escrevi este texto logo depois de conversarmos sobre o medo, mas acabei não enviando - o para ele, (agora virou artigo) Depois que conversamos fiquei pensando naquela questão da coragem e então resolvi escrever algumas coisas. A maioria você já sabe, mas aproveite o que sobrar.
O medo é importante para nos protegermos contra perigos reais ou imaginários. Entretanto, sabemos que é bastante sedutor entrar numa zona de risco a ponto de afrontar nossas qualidades de autopreservação. Implica em superação, em reconhecimento narcísico, mas principalmente, no reconhecimento de potencialidades adormecidas, ignoradas ou negadas. O reconhecimento dessas potencialidades traz de volta um certo grau de liberdade e independência, fortemente podados, durante a construção de nossos aparatos mentais de autopreservação.
Uma enorme parcela do medo que sentimos é aprendida durante a vida. Aprendemos o que temer e inclusive como sentir esse medo. Uma prova clara disso está nas crianças. Freqüentemente percebemos que elas não temem coisas que os adultos fogem de medo. Por isso mesmo, sempre ouvimos coisas como: acrobacias devem ser aprendidas na infância. Imaginemos a seguinte situação: um menino de sete anos brinca a vontade na pracinha perto de sua casa e é surpreendido pelos seus pais quando está no topo de uma árvore. Sua satisfação naquele momento, por ter vencido o obstáculo, é enorme. No entanto, seus pais, preocupadíssimos com a integridade física do filho, quase desmaiam de tanto medo. Gritam para o menino descer, revelam em sua voz e em seu olhar toda sua fragilidade, suas fantasias de morte. Reagem com agressividade, dizem que se o menino cair irá morrer ou no mínimo ficar tetraplégico. Ou seja, inundam a criança com seus medos e fantasias, potencializam os perigos e pior, em sua angustia, ameaçam o filho com punições desmedidas. Isso está em tudo. Tememos que as crianças ponham sujeira na boca, pois ela ficará doente, tememos que ela não estude e não esteja pronta para o mundo competitivo, tememos que ela suba num muro e caia. Entretanto, o que fazemos nestes momentos é impedir que por si só conheçam as dimensões de seus limites e a realidade dos perigos da vida. Cuidar e instruir são necessários e definitivamente, para mim, não acredito que isso precise sofrer as conseqüências que acima citei.
Tentamos impregnar as crianças daquilo que nos impregnaram em nossa infância, sem auto-críticas, sem relembrar como era prazeroso subir nas árvores. Quando uma criança bem pequena vai a um ambiente desconhecido podemos observar seus medos e desconfianças. Ela se aproxima com cuidado dos adultos que não conhece. Vai aos poucos procurando segurança, bem devagar vai se aproximando do desconhecido que ela teme, mas que a fascina ao mesmo tempo. Tenderá a se aproximar primeiro de adultos que lembrem seus pais em sua versão carinhosa e protetora, ou seja, geralmente terá mais facilidade com mulheres. Depois de estar seguro com essas pessoas, poderá se aproximar de outras, agora com um pouco mais de confiança. Passado um tempo, a criança já pode correr e brincar pelo ambiente.
É mais ou menos assim que aprendemos a nos relacionar com os obstáculos no Parkour.

Parkour
Lembro que em meu primeiro treino saltei um bom tempo de um muro de cerca de 1,2m para a grama. Lembro também que tinha medo e saltava parado e para baixo. O mesmo aconteceu com o Rodrigo e com o Jacques. Entretanto, ao final do treino, sentimo-nos empolgados, porque apesar do pouco que tínhamos feito em relação ao vídeo do David Belle que tínhamos assistido na semana anterior, tínhamos superado muitos limites naquelas duas primeiras horas de treino. Foi quando gritamos pela primeira vez Le Parkour Brasil. Essa foi a primeira lição que tivemos sobre vencer medos. Fazer realmente aos poucos, não ter pressa, estar com os amigos e se apoiar na segurança que um dava para o outro.
Saltei muito de lugares baixos para pegar confiança principalmente no rolamento. Descobri que cair de calcanhar doía a coluna, que tinha que limpar o chão antes de rolar e que o corpo fica doendo muito no dia seguinte. Descobrimos sozinhos, sem ninguém interferir em nada. Como sempre gostamos de fazer grandes saltos, e continuamos gostando, chegamos precipitadamente, com cerca de um mês e pouco de treino aos três metros. Tivemos muito medo no primeiro salto. Tem um vídeo meu onde fico cerca de 15 minutos indo e voltando na beirada desse salto até ter coragem e saltar. Ainda não estávamos preparados, mas sabíamos que era possível. Por isso mesmo, conseguimos saltar sim e muitas vezes a cada treino, mas também nos machucamos algumas vezes devido à falta de técnica e outras vezes por insegurança.
Aprendemos outra coisa nesta época que é o seguinte: uma vez feito o salto repita-o sempre, transforme-o em corriqueiro, integre-o sempre em seu percurso, pois se abandoná-lo por muito tempo o medo retornava. Além disso, a altura muitas vezes é menos importante que outras variáveis daquele obstáculo em especial. Saber saltar de três metros de um lugar (x) pode ser totalmente diferente de saltar de três metros de um lugar (y). Por isso tudo, salte muito de lugares baixos, porque mesmo depois de experiente, há sempre a possibilidade de errar.

Insegurança
A insegurança surge geralmente em obstáculos difíceis ou inexplorados. Neste tempo em que treino, aprendi algumas coisas sobre isso: 1- Se estiver muito inseguro não faço. 2- Quando vejo alguém fazendo antes tenho mais segurança. 3-Tem coisas que não faço, não vou fazer e fim. 4- A mente deve estar sempre livre. 5- Quanto mais técnica eu desenvolvo, mais liberdade tenho para ser natural e isso ajuda muito - quando salto da passarela, por exemplo, eu simplesmente não penso, vou e faço. Sei que sou capaz, isso tem que estar internalizado, tanto a técnica quanto a consciência do limite do meu salto. Outras vezes você terá que ficar por horas avaliando o obstáculo, aceite isso. 6- Quando o obstáculo permite faço um treino de estudante. Aproximo-me devagar até pegar confiança e executo de uma vez.

Algumas dicas específicas
Salto de precisão: não importa a superfície que eu esteja imagino que meu ponto de chegada é um cano. Isso me obriga a cair com o calcanhar sempre para fora do ponto de chegada. Existem infinitas possibilidades de superfícies para se fazer um salto de precisão. Esqueça a idéia de treiná-lo apenas de uma forma, isso serve para todos os movimentos.
Cat leap: para mim, quando estou inseguro, mas sei que estou totalmente apto a realizá-lo, fica mais fácil entrar de lado na segunda parede. Os pés sempre chegam antes. Talvez para você possa ser diferente. Descubra, é sua responsabilidade.
Escalada: tento sempre entrar correndo e na parede (usando a mãos também), saltar para cima bem próximo a ela. Cada escalada é diferente, algumas vezes você terá que fazer de outras formas. Procure obstáculos que lhe obriguem a isso.
Estudante: antes de transpor o obstáculo estude o movimento, aproxime-se aos poucos do obstáculo. Por exemplo: Num salto de precisão você pode subir no primeiro cano e equilibrar-se nele. Depois, ensaiar o salto várias vezes caindo poucos centímetros antes do cano de chegada. Se o obstáculo permitir você pode também correr e saltar do chão para o cano de chegada. E, principalmente procure um obstáculo equivalente na altura do chão.
Big Jump: caia com a ponta dos pés sempre. Quando for executar um rolamento não desista, mesmo que ele saia errado role do jeito que for possível, mas evite rolar errado.
Confira se o obstáculo não é frágil. Passe a mão sobre ele para saber sobre sua textura.
Vá e faça. Por exemplo: A maioria das pessoas teme fazer um salto e pousar numa escada. Mas não há maiores dificuldades nisso. Então vá e faça, desistir no meio do caminho pode ser perigoso. É melhor aprender a se defender, pois num erro, é assim que você irá se proteger (mas,por favor, não erre)Treine muito antes, num local baixo, para torná-lo possível e vá de uma vez.
Nossas capacidades vão além daquilo que conhecemos. Estamos tão desacostumados a usar nosso corpo de maneiras diferentes, que acreditamos que somos incapazes de coisas que muitas vezes são possíveis. Depois de tanta influência da cultura, é ruim ver que aquilo que é natural passou a ser reconhecido justamente da forma contrária.

Tuesday, October 31, 2006

A arte nos faz bem

Quero Ignorado

Quero Ignorado

Quero ignorado, e calmo Por ignorado, e próprio Por calmo,

encher meus dias De não querer mais deles.

Aos que a riqueza toca O ouro irrita a pele.

Aos que a fama bafeja Embacia-se a vida.

Aos que a felicidade É sol, virá a noite.

Mas ao que nada 'spera

Tudo que vem é grato.

De Fernando Pessoa
creio que para os traceurs

Friday, October 27, 2006

Parkour, filosofia e intervenção urbana

Parkour, filosofia e intervenção urbana

Quando começamos a praticar parkour, percebemos que despertávamos algum estranhamento. Seguidos por olhares críticos, frequentemente fomos tratados como vândalos ou adultos infantilizados, brincando de pular muros. Descobrimos que a prática de atividades não convencionais poderia revelar preconceitos de muitas pessoas. Felizmente, isso não foi a regra, mas uma constante exceção. Estamos acostumados à intensa privatização do saber, das práticas, do ambiente em que vivemos etc. Esperamos e nos acostumamos também à normatização das coisas, em detrimento à criatividade e às desconstruções e redirecionamentos. Quando passamos a frequentar praças públicas para treinar, descobrimos o quão mal utilizadas elas são. Muitas vezes, encontramos em dias ensolarados parques e praças vazias, espaços públicos abandonados ou inexplorados. Enquanto isso, ambientes privados como shopping centers, academias e clubes por exemplo, contavam, no mesmo período, com muitas pessoas. É justamente o abandono, ou o desinteresse pelo espaço público, que faz as autoridades responsáveis os negligenciarem. É compreensível que uma praça mal iluminada e vazia facilite roubos ou outras violências. Justamente por isso é que precisamos estar do lado de fora de nossas casas, ocupando esses hambientes, dando-lhes significados que os marcarão como nossos. Um espaço público frequentado torna-se mais seguro e cuidado. Mais que isso, ele passa a definitivamente existir e precisa ser considerado pelas autoridades competentes. A apropriação desses espaços é a principal forma de se reivindicar segurança, cuidado e olhar para nossa relação com eles.

Também aprendemos que exercícios devem ser feitos nas academias, amparados por tecnologias cada vez mais novas. Temos a impressão de que um aparelho de musculação de última geração é sempre a melhor forma de se conseguir saúde. Acreditamos que a academia mais cara deve ser a melhor para nós.

Será que não vale a pena voltarmos um pouco para o passado? Temos a crença de que não, pois aprendemos que nosso comportamento deve estar direcionado para o futuro. Mas vamos fazer esse exercício agora. Quando crianças, somos capazes de exercer uma criatividade de dar inveja a qualquer adulto. A caixa de fósforos transforma-se em casa, a mesa de jantar num estádio de futebol, seres superpoderosos nos ajudam em nossos objetivos, e assim por diante. Nossa curiosidade nos tira dos caminhos convencionais e queremos subir na mesa para ver o que há sobre ela. Subimos em árvores para colher frutos ou brincar de Tarzan. Assim, de forma espontânea, treinamos nosso corpo e mente para o futuro e temos muito prazer naquele presente. O parkour, que em sua origem traz a história de uma relação entre pai e filho, também pode ser encarado como uma retomada de tudo que antes lembrei. Ter prazer numa atividade física e recriar o espaço pode ser, para muitos, mais familiar e natural que repetir a mesma série de exercícios no mesmo lugar. O contato com o ambiente por esse caminho resgatado, a busca de novos obstáculos, a criação de novas formas de ultrapassá-los e, principalmente, a mudança de sentido que o parkour dá aos objetos urbanos e naturais, ensina que podemos recriar sempre, que podemos fazer do mundo aquilo que queremos que ele seja e não aquilo que quiseram por nós. Ao mesmo tempo, devido à variedade infinita desses objetos e às particularidades de um para outro, nosso corpo é trabalhado por completo. O parkour esta em nossa vida o tempo todo. Andamos, corremos, abaixamos, subimos, perdemos apenas a forma se perceber isso.

Transformamos assim, a cidade num grande exercício de possibilidades, onde o percurso de exploração é interminável. Todo o crescimento físico e mental que o parkour proporciona é conquistado individualmente, em relação aos seus próprios objetivos, sem a fantasia de que qualquer progresso depende de fatores externos. Tomamos consciência de que os objetivos e desafios a serem superados dependem da criação de nosso próprio caminho, inevitavelmente construído e articulado com o do outro, como a própria história do parkour nos mostra. Apesar de nosso grupo, até o momento, praticar parkour inspirado em David Belle, fazemos isso por escolha, sendo contra qualquer normatização ou tentativa de aprisionamento de nossa prática. Acreditamos que ele inevitavelmente vai além de ir de um ponto a outro do ambiente superando todos os obstáculos. O vemos como uma porta para a reocupação construtiva do espaço público e privado. Por isso, todas as manifestações artísticas, esportivas, arquitetônicas, de entretenimento etc, que propõem mudanças positivas, nos interessam. Da mesma forma, acreditamos que o parkour pode ser um incentivo para grupos de dança, teatro, praticantes dos mais variados esportes e outros para que ocupem as ruas e transformem escadarias em arquibancadas para espetáculos, mesas de pique nique em mesas de ping-pong, terrenos abandonados em pistas de esportes, viadutos em palco de teatro e tudo o mais que possa nos fazer bem.

Recentemente, estávamos em um parque da cidade de São Paulo quando um menino de cerca de sete anos soltou a mão de sua mãe, saiu da trilha que seguiam e entrou numa área muito pequena colada à trilha, mas de maior densidade de árvores. Sua mãe gritou em tom desesperado para que ele voltasse, dizendo que seria atacado por aranhas. O menino volta decepcionado, e continua cabisbaixo pela trilha construída. Esta cena nos fez pensar. Desde pequenos aprendemos que as únicas trilhas possíveis a serem seguidas são aquelas já prontas, algo como andar na linha, pois desviar dela seria perigoso. Não havia perigo ali, sua mãe poderia acompanhá-lo, para que ela se sentisse tranquila. Encontramos pessoas que, limitadas a responder a estímulos, pouco fazem por próprio impulso e se veem como zumbis quando lhes são retirados os estímulos que parecem mantê-las vivas; nada conhecem de sua liberdade e de sua criatividade. Esse menino perdeu a chance de se aventurar, de trilhar seu próprio caminho e ser criativo. A trilha só o permitia contemplar a natureza, enquanto o que ele realmente desejava era interagir com ela. Um praticante de parkour faz de uma suposta transgressão uma forma criativa de se viver. Não teme entrar na mata fechada, prefere conhecê-la antes de recusá-la. Diante de obstáculos difíceis, aprende a se aproximar com cautela, mas sem temê-los despropositadamente. Diante de obstáculos intransponíveis, aprende a reconhecer e respeitar os limites. Preferimos cair e levantar, pois acreditamos que a vida é assim.

Hoje, alguns grupos de parkour têm se permitido sair da linha. Mas que as coisas não se confundam. Ser correto e andar na linha é muito bom. Sair da linha é poder criar, utilizá-lo na dança ou no teatro, se unir para agir, protestar ou apoiar. Isto é possível na medida em que se amadurece que se conquista um sentimento de si, que permite uma posição básica a partir da qual operar e se afirma em responsabilidade como individuo, que nem agrada ou desagrada a todos.

Modinhas? 1


Nem eu, nem ninguém que treina comigo, discutimos ou nos preocupamos com a moda de se fazer parkour, até agora. Estamos mais preocupados em treinar. Na verdade, conversamos principalmente sobre os treinos e sobre qualquer novidade que achamos que possa nos auxiliar em nosso caminho.
Por sermos o grupo que mais contribui para a difusão do parkour no Brasil, fomos muitas vezes à primeira referencia para futuros modinhas ou futuros traceurs. A possibilidade de se pegar algo e tratá-lo como modinha é o que acontece o tempo todo. Não é moda Yoga agora? Quantos alunos modinhas de yoga têm por ai?
Felizmente nosso mundo é para todos. O que seríamos de nós sem os modinhas? Ou, melhor, não seríamos nós modinhas?
Quem nunca foi modinha?
A motivação para praticar o parkour ou qualquer coisa é pessoal, e para cada um é diferente.

¨Assim comecei a andar de skate. Naquela época era moda e acabei me empolgando. Diria que foi uma das melhores coisas que fiz. Depois de um tempo, só queria saber de andar. Abandonei o skate alguns anos depois, mas foi um tempo muito bom.
Quis ganhar um pogo-boll da minha mãe pq meus amigos tinham ganhado, não ganhei¨.

Sabe aquela frase que muita gente diz?
- Puxa, já comecei a fazer tanta coisa na vida e não terminei.
Agora pense o quanto dessas coisas foram modinhas.
Temos o direito de nos interessar pelas coisas do nosso modo e não temos o direito de mudar as coisas ao nosso modo. É só isso.
Um modinha é só um modinha. Você que treina de forma séria ensine algo a ele. Transforme aquele momento em algo melhor. Não confunda iniciante com modinha, pois ele vai falar como senso comum, é claro.
Mas, e se o modinha treinar uma vez por mês, se atirar de 4 m, se machucar, não vai queimar o parkour?
Claro, mas você esperava o que?
Você nunca pegou uma bicicleta e se atirou num salto ou movimento se arriscando? Nunca se machucou e denegriu os profissionais de bike? Procure um exemplo na sua vida.
Para não sermos autoritários basta separar o joio do trigo.
Na minha profissão existem maus profissionais. Assim é em todas. Nem por isso, deixamos de ir ao médico, consultar advogado, basta separar o joio do trigo.
Se os praticantes sérios forem exemplo e caso disponham-se a transmitir livremente o que sabem, acho que a missão estará cumprida.

Sunday, October 22, 2006

Parkour na Mídia 1




***Comecei a praticar parkour sem nenhuma expectativa muito grande. Minha inspiração foram vídeos de Belle e realmente, não imaginava chegar aonde cheguei. Objetivo após objetivo, superei diversas carências e encontrei outras mil.
Mas aonde cheguei? A lugar nenhum. Isso mesmo. Diria que cheguei a lugar nenhum e que parece ser onde deveria ter chegado.
Quero dizer apenas, que cada objetivo alcançado inaugura um novo objetivo. Após um salto de precisão, inaugurei repeti-lo 50 vezes. Após repeti-lo, procurei outro mais distante. Em seguida, quis realizá-lo numa superfície ainda menor. Percebi que, se aumentasse minha força na perna poderia ir mais longe, então, intensifiquei o treino de força... Percebi então, que não tem aonde chegar, não tem porque chegar a algum lugar se nosso prazer é estar em ação.
No meio desse caminho, a Revista Isto é descobriu que nós treinávamos regularmente. Pesquisaram e publicaram que ali se formava o primeiro grupo de parkour do Brasil. Saiu assim, na matéria de setembro de 2004. Indicamos pessoas de Brasília para colaborarem na matéria, assim como de Florianópolis e Curitiba.
A matéria foi vista criticamente pelos praticantes da época e com razão. Continha algumas idéias equivocadas, alguns termos errados, mas definitivamente contribuiu muito, direta ou indiretamente para que você, que esta praticando parkour agora, tenha-o conhecido. Até hoje, recebemos ligações para reportagens de jornalistas que conheceram o parkour nesta edição da revista.
Em seguida, saímos na capa do Diário de São Paulo e logo veio a matéria da MTV. De lá para cá, fizemos mais de 50 matérias nos maiores meios de mídia e divulgação no Brasil.
E? E nenhuma divulgação representou estritamente aquilo que tentávamos transmitir. Muitas vezes, nos esforçávamos e explicávamos, corrigíamos... Eles faziam tudo ao contrário.


***Definitivamente, o parkour é algo novo e nossas entrevistas sempre respeitaram o discurso dominante em cada momento. Já os jornalistas, sempre o destorceram um pouco. Hoje, o discurso sobre ele mudou, mas o que importa é que muito além do discurso, está o espírito. O espírito pode estar presente com esse ou aquele nome, com essa ou aquela ideologia. É no espírito que nós nos juntamos, não no discurso.
Por isso, treino a vontade com traceurs, acrobatas, escaladores, bailarinos ou freerunners. Os nomes, as discussões burocráticas e tudo mais desaparecem, pois o espírito vem antes. Fazer parkour com discurso é fácil, fazê-lo com espírito é raro e felizmente nos faz aprendizes sempre.
Sou a favor de menos discurso e mais exemplo, mais experiência, mais espírito.Quem começa a praticar terá que ir atrás de informações e imediatamente verá que parkour é outra história. Terão nos antigos o exemplo. Aliás, que exemplo você esta dando?


*** É claro que não gostamos de fazer uma coisa e ver outra na tv, mas é assim que milhares de pessoas têm contato e a oportunidade de conhecer algo que acreditamos como um bem que nos foi transmitido e que da mesma forma pretendemos transmitir. Apesar das edições serem tendenciosas necessariamente, pois expressam uma visão, o forte das matérias são as imagens. Com elas, os praticantes são autênticos e inspiradores. As matérias, apesar de não representarem exatamente o discurso que esperamos nem que transmitimos, também não são tão ruins assim.
Por exemplo: Esporte é a palavra mais familiar para os jornalistas, com mais proximidade de significado para uma descrição ou definição do parkour para a massa, segundo eles. Alias, faz pouco tempo, os praticantes falavam de esporte quando falavam de parkour.
-Por favor, sem histerias quando numa matéria chamarem parkour de esporte ou rolamento de cambalhota. É claro que temos que conseguir que se substituam essas palavras por outras mais adequadas, mas pensem bem, o jornalista também tem suas necessidades, ele ainda não se permite escrever disciplina, por exemplo. Segundo sua interpretação é uma expressão difícil, foi o que me disse a jornalista da super interessante. Mas, não é porque chamaram de esporte que está tudo perdido.


***O problema de se nomear como esporte, é que assim irá se esperar dele tudo aquilo que se encontra nos esportes, como competições, por exemplo. Mas tudo bem. Vamos vencer essa, aos poucos eles começam a aceitar, se acostumar com a idéia e não sentirão mais a necessidade de escrever da forma que tem escrito ou que tem editado para tv. Não tem porque brigar. Mesmo assim, entendo porque um jornalista chama rolamento de cambalhota, mesmo sabendo que é rolamento. Temos que dar o exemplo e repeti-lo sempre, até que não tenha mais sentido caracterizar o parkour de forma diferente da qual o praticamos.


*** De qualquer forma, vale a pena ver como as coisas na mídia mudam. Abaixo, segue o texto que depois de muito conversar consegui melhorar um pouco, mas ainda são visíveis o tom popular que a revista espera e algumas confusões comuns sobre a história. Esse texto era o que devia sair na edição de outubro de 2006 da revista Super Interessante. Assim foi conversado com a jornalista, mas quem manda é o editor e quem leu a revista com certeza viu algo bem diferente. Da mesma forma, o desenho mostra o primeiro esboço que, infelizmente foi reduzido e nem tudo corrigido adequadamente. Sem cuspir no prato que comi, achei a matéria boa, só que poderia ter sido ainda melhor.
Mas não seria assim mesmo?


Uma disciplina esportiva, que se apropria de técnicas de ginástica olímpica, artes marciais e técnicas naturais. O Le Parkour consiste na transposição de obstáculos sem a ajuda de rodinhas, acessório especial ou qualquer parafernália motorizada.
A idéia é que os traceurs – praticantes – usem apenas o próprio corpo, com eficiência, fluidez e agilidade para pular muros, escalar paredes, subir em árvores ou saltar vãos, realizando um percurso e atingindo o destino desejado.
Cada praticante segue seus próprios objetivos, as manobras são chamadas de movimentos e é principalmente através do treino com a repetição de percursos e com exercícios com o próprio corpo que, segundo os praticantes, o corpo se condiciona e fica esteticamente trabalhado e ágil para a superação dos obstáculos.
Competição é uma palavra que não existe no dicionário dos traceurs. Da mesma forma, academia e musculação apenas, são práticas de educação do corpo consideradas pobres no objetivo da educação, pelo criador do método natural, que inspirou o parkour. “O propósito do Parkour vem de algo mais nobre”, afirma Eduardo Bittencourt, um dos pioneiros no Brasil. “Ele pode ser uma porta para integrar o ser humano com a natureza e com a sociedade. David Belle treinava pensando em ser um homem forte e útil para si e para a sociedade, criar seres humanos mais íntegros nos interessa”.
O nome parkour é uma palavra francesa para designar ‘percurso’. O parkour teve origem no subúrbio de Paris, na década de 80, quando adolescentes de lisses treinavam juntos. David Belle, um deles, vinha de uma família de bombeiros, e cresceu acompanhando as técnicas de salvamento e fuga treinadas para situações de emergência e guerras, como a do Vietnam.
Influenciado pelo pai, David Belle via na ginástica natural uma forma do homem desenvolver seu corpo e usá-lo de forma prática e útil na vida. Para isso, baseava-se no “Natural Method of Physical Culture”, ou método natural de educação física, de George Hébert, educador físico francês do século 20. Hébert estudava a teoria do “nobre selvagem” de Rosseau e acreditava que apenas observando a natureza o homem seria capaz de criar métodos reais de desenvolvimento do corpo.
Aos 15 anos, Belle começou a praticar o Parkour nas ruas usando técnicas do Método natural e artes marciais, somadas às técnicas de salvamento e fuga dos bombeiros. Junto com o amigo Sébastian Foucan, que depois seria responsável pela criação de algumas técnicas do Parkour, o desenvolveram, e belle cria o grupo Yamakasi, que atrairia novos adeptos em toda a Europa.
Hoje, no mundo todo, o Parkour está divido em duas correntes: free running e parkour. O primeiro geralmente mais preocupado com a parte estética das manobras do que com a superação de obstáculos de fato. “É uma forma de arte, de se expressar. É um parkour estético em que o foco pode estar no praticante e não na dificuldade do obstáculo”, explica Eduardo Bittencourt, lembrando que os dois estilos se misturam bastante no Brasil. “Já o Parkour mesmo, é aquele que tem como objetivo você ir do ponto A ao B, superando os obstáculos rapidamente, preparando-se física, técnica e mentalmente para agir, sem se ocupar com nada além de seu objetivo”, completa.
No Brasil, o Parkour chegou em 2004, pela Internet. O primeiro grupo a ser criado por aqui foi o Le Parkour Brasil, formado inicialmente por: Jacques Kauffman, Rodrigo Bélgamo e Eduardo Bittencourt. Ao assistirem a um vídeo de David Belle, eles se motivaram a realizar seu primeiro treino. Três anos depois, o parkour não pára de crescer, a maior comunidade no orkut é brasileira, a ‘Le Parkour Brasil’, e os traceurs tem transformado as cidades numa verdadeira academia a céu aberto.
Se você tiver andando pela rua e der de cara com um cara saltando a escada do metrô ou subindo num muro de 5 metros de altura, sem cordas ou qualquer outro aparato, não ofereça ajuda. Ele só está trilhando seu próprio caminho, um caminho mais divertido para chegar ao mesmo lugar que você.

PARA SABER MAIS
http://www.parkour.net/

Sunday, September 24, 2006

Le Parkour Brasil- Edu

Eduardo Bittencourt