Monday, November 28, 2011

Aula de Parkour, uma visão específica.

Aula de Parkour, uma visão específica.
Tanto em aulas regulares de parkour quanto em treinos puxados por algum grupo ou alquém, podemos sentir prazer e aprender. Entretanto, desse prazer e desse aprendizado fazem parte a submissão a autoridade de alguém. Refiro-me a treinos cujas ações são determinadas e repetidas. Estas proporcionam resultados específicos, progressivamente intensificados.
O parkour parte de um processo interno de ida em sua direção. É uma busca individual e, acredito, tem seu valor aumentado de acordo com seu distanciamento do esporte. Não existem movimentos no parkour que não dependam de obstáculos, ou que não dependam da forma que você vai criar a sua prática. Proponho que não se deve focar um treino em movimentos, mas em obstáculos. Seu movimento é uma consequência natural de sua relação com o espaço. Se existe um vão você o salta. No parkour, uma das possíveis consequencias de existir um vão é saltá-lo. Existir um vão não é consequência do ato de saltar. Movimentos determinados podem ser substituídos pelas consequências de se relacionar com a diversidade do espaço. Na medida em que o foco é o ambiente, o estabelecimento da relação física com ele fica mais completa, o que significa maior controle sobre o obstáculo total. Isso permite que o praticante saiba por que esta fazendo determinada coisa. Assim, treinar salto em distância, fortalecer as pernas e medir quantos metros alcança, passa a fazer parte do treino instigado pelo obstáculo, afastando-se da concepção de manobra, movimento, exercício físico e comparação. Supondo um muro e determinada relação que se estabeleceu com ele é possível investir de verdade no treinamento de braços, por exemplo. Se o praticante está disposto a subir o muro, e percebe que precisa, mas não tem força no braço para chegar ao topo, poderá escolher uma infinidade de formas de se fortalecer até alcançar seu objetivo. O importante é que teve uma razão para treinar o braço que partiu do próprio desejo de superar o muro. Um professor de parkour, quando apenas ensina movimentos, limita a relação do aluno com o obstáculo em direção a obtenção e a intensificação de resultados específicos. Se o objetivo for passar um carro, um vault pode resolver. Mas para quem aprendeu que se passa um carro com vault, e não consegue dessa forma, passar simplesmente pisando sobre ele, torna-se uma possibilidade impossibilitada caso o instrutor sobreponha a técnica ao abjetivo. Neste caso quem ensina pode se confundir e apontar o despreparo do praticante para aquele obstáculo, enquanto possivelmente seu despreparo é para a técnica. A única razão justa para existirem professores de parkour é o fato de eles gostarem dessa posição, precisarem de dinheiro e terem alunos satisfeitos. O discurso hipócrita de que através de aulas se pode ensinar o parkour de verdade só disfarça o fato de que se poderia dizer a mesma coisa sobre treinar junto ocupando a posição de mestre e aprendiz o tempo todo, sem precisar cobrar um tostão. O professor de parkour ensina com liberdade através de uma perspectiva pessoal ou sem liberdade se precisar se submeter a um contratante. Lamentavelmente em ambos os casos não faltarão tentativas de apropriação de uma verdade elitizadora e ignorante, baseada no discurso de uma norma escravizante, que empresta autoridade a uma pessoa para exercer um poder que nem as supostas autoridades tem, visto que a noção de autoridade no parkour é totalmente dispensável. Refiro-me diretamente a uma concepção de treino vertical assumida como verdade única.
Este texto é um pedido aos professores de parkour que honestamente ganham seu dinheiro e oferecem o melhor de si nas aulas. Esse pedido é que considerem o que falo e que sempre estejam dispostos a melhorar o que fazem. Um grande abraço aos meus amigos professores de parkour.

1 Comments:

Blogger Duddu Rocha said...

Texto maravilhoso e que me tomou bastante de surpresa. Confesso que esperava um texto muito menos denso e entrecortado com alfinetadas ao ensino de Parkour.

Me enganei feio e o texto é na verdade um atestado bastante pertinente a nossa atual realidade.

A única coisa que me incomodou, de fato, foi a utilização do termo "ditadura da técnica". Eu costumo ministrar aulas de Parkour e também já fui aluno de instrutores de todo canto do país. E o que menos vi em todos eles foi essa imposição.

Acredito que a grande maioria das pessoas que adentraram pelo caminho do ensino, tem um respeito muito grande ao não engessamento de movimentação e a prioridade pela liberdade do aluno praticante.

De outra forma sim, ao invês de termos instrutores para auxiliar a expansão da atividade, teremos destruidores da dita filosofia.

12:28 PM  

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